nem tudo o que sabe bem faz mal ou engorda



Maria, a purificadora

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Muito bem. Assentes que estão meia dúzia de coisas já posso voltar. De vez em quando preciso de me ausentar. Espero que me não levem a mal, mas preciso de viver. De respirar. Esta coisa dos computadores e dos blogues é claustrofóbico, mas ao mesmo tempo paradoxalmente libertador.

E se começasse mesmo pelo princípio?
Bem diz o tau-tau e com muita razão. “Uma feminista daquelas que não foi violada aos 7 anos por um familiar, que não foi assediada por todos os patrões que teve, que não teve só namorados que a trocavam pelo Benfica e que não acabou a viver sozinha com depressões periódicas a sonhar que fode.” Apenas uma pequena correcção querido Karloos: Não sou feminista. Aliás acho essa treta do feminismo uma grande fantochada. Umas mal ou nunca verdadeiramente fodidas é o que elas são, tão dignas da sua importância como todos os machistas, se bem que estes ainda me conseguem desapertar um ou outro sorriso complacente.

Mas aqui vamos,

Canto os combates a esse herói que, antes de nenhum outro…
(um doce a quem adivinhar de onde sai este princípio!)

Estava no princípio. Ora naquele dia, seria Verão? Talvez Primavera, não interessa…estava calor. Era um daqueles dias em que acordamos e a manhã já se instalou completamente. Abri a janela e senti na cara e nos cabelos o ar morno dos dias felizes. O sol brilhava lá fora e invadia-me os lençóis. Assim me deixei ficar naquela moleza.

Aproveitava a minha cama, o meu quarto. Regressara a casa há dois ou três dias e pela frente estavam uns meses de férias, limpinhos e sem ossos! Deixei-me ficar a sentir a manhã, o sol, a vida a subir-me lentamente pelas pernas. Não sei se terei adormecido, apenas me recordo de sentir uma imensa vontade de me tocar. Se adormeci sei que acordei já a acariciar-me enquanto a janela aberta deixava entrar uma suave brisa. Lá em baixo, no pátio da minha casa, ouviam-se os amigos da minha irmã do meio, que com ela combinavam os preparativos da viagem que se aprestavam para fazer. Continuei a acariciar-me agora já mais localizada. Fechei os olhos e concentrei-me. Ouvia nitidamente a voz de V (vou chamá-lo de V., v de Virgílio por exemplo).

Virgílio era um tipo alto e magro, simpático, meio tímido e de gargalhada fácil. Não era nenhum Cruise ou mesmo Baldwin (esses eram os meus príncipes na altura!) mas tinha aquela aura que nos fazia desejar perdermo-nos com ele em qualquer lado, fugir, conhecer mundo… Virgílio tinha um timbre grave, que ecoava pelo pátio, ricocheteava no tecto do meu quarto e tocava-me exactamente ali, no biquinho da minha lolinha. E era ele que o estava a fazer ali por mim. Tinha a certeza que era ele. Foi assim, a ouvi-lo bem dentro dos seus graves que tive o primeiro orgasmo a sério. Tinha 11, 12 anos não mais. Descobri que na minha mão repousava um poder fabuloso, o orgasmo.
Uma das maiores fontes de energia do universo estava ali, entre as minhas pernas e ao alcance de um dedo.

Até aquele dia apenas tinha tido pequenas aproximações de um verdadeiro orgasmo. Assim umas mini sensações, uns miniorgasmozinhos, um género de orgasmos anões, daqueles que não crescem, irrequietos e fugidios, que desaparecem. Depois, por mais que os procuramos nos sonhos de onde eles nos saíram não os encontramos!

Até esse dia (e não! Aquilo que acabara de sentir nao era... seria bastante mais do que um sonho!) ou eram umas calças de homem que inexplicavelmente e num dado momento ganhavam vida... ou apenas aquele beijo e uma festa furtiva que tinham ido directamente à casa-partida... ou seja, era algo pouco definido e não controlável que eu sentia de quando em vez.

Mas nesse dia não! Essa manhã fora diferente. Desse dia em diante e durante o ano que se seguiu não mais parei de brincar com aquele brinquedo. Masturbava-me todas as noites, depois de apagarem as luzes. E só adormecia quando me vinha. Esperar pela noite e pela cama não me chegava e passei a fazê-lo onde calhava. Acariciava-me várias vezes por dia e procurava sempre locais diferentes.

Recordo-me de uma das vezes, de ter saído em plena aula de Latim, para vir ao quarto de banho. Líamos um texto qualquer que me desatou a imaginação para Roma, para os romanos, para as suas túnicas e...
- Madre, posso ir ao quarto de banho?
A Madre sem interromper a leitura, a anuir que sim com a cabeça, enquanto retorcia a boca em sinal de desaprovação e eu a tremer as pernas, como que a explicar-lhe que de outra forma fazia ali mesmo.

Dessa vez e talvez porque me ficou na cabeça um Tulius ou um qualquer César todo bem posto, foi fácil! Saltei para um orgasmo em poucos segundos. Como fui muito rápida continuei. Só mais um bocadinho, pensei. Então e quando estou quase a montar o segundo senti um imenso esguicho a rebentar-me, a subir e a escorrer pela porta. Não me contive e soltei um gritinho que abafei logo de seguida. Seria o quê? Chichi? Mas eu não tinha vontade nenhuma! Não me parecia nada chichi. Por via das dúvidas e porque tinha ficado muito perto to cume, continuei a escalada.

Finquei os pés bem no chão, flecti as pernas, puxei melhor a camisa e a saia para debaixo do queixo e espreitei-me enquanto me tocava sofregamente. Foram apenas uns segundos e aí senti e vi claramente que não seria chichi. As minhas pernas escorriam, a porta em frente escorria e eu esguichava-me num jacto quente meio intermitente. Tive de parar senão desmaiava. Recuperei aos poucos enquanto me deixava ficar ainda ofegante, a observar os despojos e o estado em que me encontrava, de soquetes e de sapatos todos molhados. A meio da aventura já não era um Tulius mas era antes o meu Virgílio, que envergando uma túnica branca me tinha acabado de me empurrar com o seu doce pauzinho de todas as maneiras e feitios.

Só voltei à sala depois de lavar a cara. Sentia-me vermelha como um pimentão. No regresso a Madre a perguntar-me se me sentia bem e eu a dizer-lhe um,
- Mais ou menos Madre, mais ou menos…

Lembro-me de, nesse dia e no recreio, tentar contar essa coisa espantosa de me tocar e de nem chegar a entrar na parte de me ter vindo, porque uma das minhas amigas me disse muito pronta que o pai lhe teria dito que,
- (...) e mexer no pipi é pecado capital e vai-se direitinha para o inferno!
End of conversation.

Eu fui educada pela moral católica, sempre muito católica, apostólica e romana, aliás como todas as minhas irmãs, e num colégio de freiras! As freiras, talvez já por conhecerem as minhas duas irmãs mais velhas, sempre condescenderam muito comigo, Era de família! como dizia a Madre, com aquele ar sério que nunca encontrei em mais lado nenhum. Davam-me assim algumas regalias, como por exemplo poder estar na cozinha (talvez por já terem experimentado os genes das minhas irmãs. Eu, tal como elas, vencia-as pelo cansaço!) e na cozinha “vivia” a Maria da Purificação. Nunca mais soube nada dela coitada, mas não fará mal usar este nome, uma vez que não é o seu nome verdadeiro. Não é o seu nome civil, mas antes o nome de casada, o nome que adoptou depois do seu matrimónio com o Senhor. Se calhar por esta altura até já se terá divorciado!
A Purificação, como a chamávamos, já que Marias eram todas, era uma freira especial. Não lhe sei definir a idade porque na altura toda a criatura mais velha que eu, era muito simplesmente uma velha. Mas lembro-me de a ver muito redondinha na sua camisinha de algodão (as freiras nunca despem a camisa de algodão que trazem debaixo das dobras encapeladas dos seus hábitos) e de mãozitas papudas a lavar-se e a descolar do corpo a camisa, enquanto me mandava virar a cara para a não ver em poses de miss freira molhada.

A Purificação era uma freira diferente. A Purificação não me dava logo com os sermões da carne e de como se não deve observá-la e por aí fora. A purificação funcionava assim como a conselheira de serviço ao convento. Com ela podíamos confessar tudo, que a sua cara não se abria. Não lhe ouvíamos nem responso nem receituário em forma de salvé rainha, muito pelo contrário, tratava-nos como umas crescidas que não éramos, mas que ao pé dela nos tornávamos.

Lembro-me então de lhe atirar de chofre com,
- A Purificação sabe que se fizermos assim muitas festinhas na lolinha sentimos uma coisa boa a crescer, que nos adormece os lábios, que nos faz babar, que nos entorpece…
E eu continuava por ali numa descrição tal que até a mim própria surpreendia, quando ela cortou com um,
- Basta rapariga, que bem sei o que dizes!
Seguiu-se um pequeno silêncio em que pensei que a Purificação me ia dizer qualquer coisa dura, muito dura, mandar-me sair do quarto, tal era a cara feia que fazia enquanto me olhava. Depois, já mais calma mandou-me encostar a porta (as portas estavam sempre abertas em constante desafio de provação) vestiu-se e meio de lado disse-me,
- Xaninha, tu já não és uma menina. Tu és uma mulher. Aquilo que me contas é que já serás uma verdadeira mulher. Uma mulher…
Eu, vendo-a claramente abalada perguntei,
- Mas Purificação, fazer festas será pecado? Purificação olhou-me então bem nos olhos e sorriu. Aproximou-se de mim e disse-me,
- Não filha, não é pecado fazeres festas a ti mesmo. Pecado seria se o não fizesses!
- E o Inferno? Acrescentei, mas já ela atalhava,
- Olha Xaninha, tu já és uma mulher e essas coisas nós, as mulheres, não as andamos por aí a espalhar aos sete ventos. Guardamo-las só para nós numa caixinha que é só nossa! Não digas a mais ninguém é o que te peço. Nem que me disseste o que acabaste de dizer, nem que eu te disse aquilo que tu agora mesmo ouviste. Ficará um segredo só nosso, que cada uma guardará na sua caixa… e quanto ao inferno Xaninha, não te preocupes com ele... O inferno Xaninha! O inferno somos nós!

Nesse dia fiquei a saber que as minhas festas na lolinha não eram pecado algum, mas que dessa circunstância mais ninguém no mundo podia saber!
Também percebi que a irmã Maria da Purificação, além de alimentar bem o corpinho como se notava, também nutria muito bem o espírito, a fartas pratadas de Sartre.


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